Um dia subiu um homem ao mirante da sua casa, que era muito alto, e de lá olhou para baixo. E viu outro homem, que estava em pé, parado junto á boca d’uma pedreira. E em quanto estava a olhar, soprava o vento em redor dele, e o ruído, que o vento lhe fazia aos ouvidos, atordoava-a e o ofuscava. E disse para si: Eu, que aqui estou, sou maior que aquela criatura que vejo acola (lá) em baixo, e que me parece tão pequena. E falava deste modo, porque fazia como fazem quase todos os homens, que, medindo sua própria altura, se esquecem de sempre de descontar a do pedestal em que se acham. Ora, em quanto o homem do mirante tinha abaixada a vista, com desdém, para o homem do chão, aconteceu sentir ele alguma coisa que lhe caíra na cabeça; e tendo levantado a vista, viu á encosta da sua casa uma torre muito mais alta; e na torre havia também outro homem. E este homem, reparando que o do mirante lhe ficava debaixo, acreditou que o podia desprezar, e escarrou-lhe desdenhosamente na ca